Religião inca


Religião

Com inteligente visão política, os incas incorporaram deuses e crenças dos povos conquistados, num sincretismo religioso que explica a coexistência da religião oficial e de vários cultos e rituais derivados do ciclo agrícola.

Ao deus Sol, Inti, considerado pai da nobreza inca, eram consagrados os principais templos. A reforma religiosa do imperador Pachacútec substituiu o culto de Inti pelo de Viracocha. Segundo historiadores, Viracocha tinha sido o deus supremo de civilizações pré-incaicas e era visto como herói civilizador, criador da Terra, dos homens e dos animais.

Apu Illapu, senhor dos raios e da chuva, era o protetor dos guerreiros e camponeses. Em tempos de seca, a ele ofereciam-se sacrifícios (às vezes humanos). Entre as divindades femininas, Mamaquilla era a Lua, esposa do Sol, em torno da qual se organizava o calendário das festas agrícolas e religiosas. Pacha Mama, designação da mãe-terra, protegia os rebanhos de lhamas. Seu equivalente masculino, Pachacámac, era cultuado sobretudo na região litorânea. O mar e as estrelas também representavam manifestações divinas.

As cerimônias se realizavam ao ar livre. Os templos tinham em geral um só recinto e habitações anexas para os sacerdotes. Construíram-se grandes templos em localidades importantes, como Cuzco e Vilcas-Huamán, considerado o centro geográfico do império. Junto ao templo de Cuzco, dedicado a Inti, ficavam as "casas do saber" -- onde se formavam contadores, cronistas e outros sábios -- e a "casa das virgens do Sol", que deviam permanecer castas e dedicadas ao culto de Inti, salvo se escolhidas como concubinas pelo imperador ou por ele oferecidas a favoritos.

A casta sacerdotal, vinculada à nobreza, detinha grande poder e possuía terras. Os sacerdotes eram considerados funcionários imperiais e deviam obediência ao sumo-sacerdote -- o huillac humu, de linhagem nobre --, radicado no templo de Cuzco.

Os sacrifícios constituíam parte essencial da religião dos incas. Nas ocasiões importantes, exigiam-se sacrifícios de animais ou pessoas, mas o comum eram as oferendas de flores, bebidas, folhas de coca e vestes, lançadas ao fogo sagrado.

As diversas festividades, em que se realizavam procissões e danças rituais, eram estabelecidas de acordo com os ciclos agrícolas. Atribuíam-se as calamidades públicas à inobservância de algum preceito ou ritual, que devia ser confessada e expiada para acalmar a cólera divina.

Os sacerdotes desempenhavam a função de curandeiros, praticavam exorcismo e faziam previsões antes de qualquer acontecimento público ou privado importante. Nos pontos mais altos dos Andes erguiam-se montes de pedras, aos quais o viajante acrescentava a sua para pedir uma boa travessia.

Construíam-se grandes túmulos e monumentos funerários, pois os incas acreditavam na sobrevivência da alma depois da morte: os que tinham obedecido às ordens do imperador sobreviviam confortados pelo Sol, enquanto os insubordinados permaneciam eternamente sob a terra.