Cultura maia


Cultura e conhecimento

A ascendência da cultura maia se revela no terreno intelectual. Os sacerdotes, detentores do saber, eram responsáveis pela organização do calendário, pela interpretação da vontade dos deuses por meio de seus conhecimentos dos astros e da matemática.

Os maias adoravam vários deuses que puderam ser identificados em códices do período pós-clássico e em muitos monumentos. Na maioria estavam associados à natureza, como os deuses da chuva, do solo, o deus Sol, a deusa Lua e um deus do milho. Para fazer pactos com esses deuses, o povo sacrificava animais e até seres humanos, em escala reduzida, e oferecia o próprio sangue. A partir do século X, passaram a adorar Kukulcán.

O desenvolvimento da aritmética permitiu cálculos astronômicos de notável exatidão. Os maias conheciam o movimento do Sol, da Lua e de Vênus, e provavelmente de outros planetas. Inventores do conceito de abstração matemática, os maias criaram um número equivalente a zero -- conceito até então desenvolvido apenas por uma civilização hindu primitiva -- e estabeleceram o valor relativo dos algarismos de acordo com sua posição. Seu sistema de numeração de base vinte era simbolizado por pontos e barras.

Graças a estudos minuciosos do movimento celeste em observatórios construídos para essa finalidade, os astrônomos maias foram capazes de determinar o ano solar de 365 dias. No calendário maia, havia um ano sagrado (de 260 dias) e um laico (de 365 dias), composto de 18 meses de vinte dias, seguidos de cinco dias considerados nefastos para a realização de qualquer empreendimento. Também adotavam um dia extra a cada quatro anos, como ocorre no atual ano bissexto.

Os dois calendários eram sobrepostos para formar a chamada roda ou calendário circular. Para situar os acontecimentos em ordem cronológica usava-se o método da "conta longa", a partir do ano zero, correspondente a 3114 a.C.. A inscrição da data registrava o número de ciclos -- kin (dia), uinal (mês), tun (ano), katun (vinte anos), baktun (400 anos) e alautun (64 milhões de anos) -- decorridos até a data considerada. Acrescentavam-se informações sobre a fase da Lua e aplicava-se uma fórmula de correção de calendário que harmonizava a data convencional com a verdadeira posição do dia no ano solar.

No campo da medicina, a ciência associava-se à magia tanto no diagnóstico quanto no tratamento das doenças. As causas das enfermidades podiam ser atribuídas a fenômenos naturais ou sobrenaturais e, segundo o caso, o médico ou feiticeiro receitava infusões, ungüentos, sangrias ou poções mágicas.

Informações sobre os conhecimentos científicos e os fatos históricos da civilização maia constam das diversas estelas hieroglíficas, algumas ainda indecifradas, e dos códices, a maior parte dos quais foi destruída pelos conquistadores espanhóis. Restam apenas três códices, em Dresden, na Alemanha; em Madri, na Espanha; e em Paris, na França.

Outra importante fonte para o estudo dessa cultura milenar são os textos em língua maia que foram produzidos em alfabeto latino, no século XVI. Entre estes destacam-se o Popol Vuh, que abrange a mitologia e a cosmologia da civilização maia pós-clássica, e os livros de Chilam Balam, relatos históricos mesclados com mitos, adivinhações e profecias.
 
Arte

No auge da civilização, a arte dos maias era fundamentalmente diferente de todas as outras da região, por ser muito narrativa, barroca e, com freqüência, extremamente exagerada, em comparação com a austeridade de outros estilos. A arquitetura, voltada sobretudo para o culto religioso, lançava mão de grandes blocos de pedra e caracterizava-se por abóbadas falsas e hieróglifos esculpidos ou pintados como motivos de decoração.

As construções que mais simbolizam a arquitetura da civilização são os templos decorados com murais e símbolos esculpidos, e construídos sobre pirâmides, com topos terraceados. Uma escadaria central num dos lados da pirâmide conduzia o sacerdote ao interior do santuário, enquanto o povo permanecia no sopé do monumento. Diante da escadaria, ergue-se, quase sempre, um monólito com a figura de um personagem aparatosamente vestido, rodeado de motivos simbólicos e hieróglifos. Um dos mais importantes monumentos desse tipo está situado nas ruínas de Chichén Itzá.

Os palácios, com várias salas e pátios internos, tinham plantas simples e retangulares. Outras construções notáveis foram os observatórios astronômicos e as quadras para a disputa de um jogo de bola cujas regras são pouco conhecidas.

A escultura maia era subordinada à arquitetura como elemento decorativo e é também rica fonte de informações sobre a cultura. Em pedra, estuque e madeira, as esculturas decoravam lápides, dintéis, frisos e escadarias. Era ainda freqüente a instalação ao ar livre de estelas com relevos comemorativos, tais como as de Copán e Uaxactún.

Na pintura, são importantes os murais multicoloridos, com técnica de afresco, sobre temas religiosos ou históricos. A pintura era também empregada para decorar a cerâmica e ilustrar os códices. Notáveis exemplos de pintura mural foram encontrados em Bonampak (onde destaca-se a magnífica indumentária representada) e em Chichén Itzá. Os afrescos do templo de Cit Chac Cah (estado de Chiapas), possivelmente do século VII, foram executados em estilo realista e cores vivas, nas paredes das três salas de cinco metros de altura, com cenas religiosas e profanas.

A cerâmica maia pode ser dividida em dois grupos: os utensílios de cozinha do dia-a-dia, normalmente não-decorados, mas às vezes com formatos geométricos; e oferendas fúnebres. Os vasos destinados a acompanhar o corpo reverenciado eram geralmente pintados ou entalhados com cenas naturalistas ou freqüentemente macabras. Em Uaxactún, encontraram-se estatuetas muito primitivas, todas representando mulheres. Do período Chicanel, são outras estatuetas e vasos de formas simples, vermelhos e negros.

Na fase seguinte, dita Tsakol, a cerâmica, mais apurada, apresenta grande diversidade de formas e acentuada estilização (Tikal e Uaxactún). A fase final, conhecida como Tepeu, caracteriza-se pela delicadeza das formas dos vasos, decorados com cenas e inscrições.

A pedra mais preciosa para os maias era o jade, bastante trabalhado pelos artesãos e modelado principalmente em forma de placas, relevos ou contas de colar. Dos trabalhos em jade, restam alguns exemplos como a placa de Leyden (Tikal) e a do Museu Britânico, de extraordinária perfeição.